segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Fragmentos do livro SHANTALA, de Frederick Leboyer.

          Se os bebês berram sempre que acordam não é porque a fome os atormente.
          Eles não morrem de inanição.
          Eles são aterrorizados pela novidade da sensação. Por essa "coisa qualquer interior" que assume imensas proporções, justamente porque o mundo exterior está morto.
          É preciso alimentar os bebês.
          Sem dúvida alguma.
          Alimentar a sua pele tanto quanto o ventre.
          E, além disso, nesse oceano de novidades, de desconhecido, é preciso devolver-lhe as sensações do passado. Só elas nesse momento podem oferecer-lhe um sentimento de paz, de segurança.
          A pele e as costas não esqueceram.
          Já contei como, passada a surpresa, o pequeno começou a amar, a esperar por essa força que dele se apoderava, o esmagava e, por isso, o deixava assombrado e saciado.
          E como, semana após semana, o abraço ficava mais apaixonado, mais poderoso, para finalmente, culminar no delírio, a embriaguez do parto, do trabalho.
          Seria grave erro imaginar que o nascimento é necessariamente doloroso para o bebê.
          A fatalidade da dor não existe.
          Não mais que a fatalidade do parto.
          Assim como dar à luz pode ser para a mulher liberada do medo uma experiência inebriante, com a qual nada se pode comparar, para o bebê, o nascimento pode ser a mais extraordinária, a mais forte, a mais intensa das aventuras.
          Seu grito é um protesto apaixonado por aquilo que um prazer tão intenso vem interromper de modo brusco.
          Eu disse como, no nascimento, era preciso segurar a criança, massageá-la.
          Ao prolongar, dessa maneira, a poderosa sensação, lenta, ritmada, ao fazê-la alimentar-se de modo pausado, evitamos a ruptura brutal, causa de sofrimento e abstinência.
          Parece à criança, então, que a contração a acompanha até a margem para abandoná-la uma única vez,  quando ela estiver bem assentada nessa liberdade nova e embriagante.

          O que fizemos no nascimento temos de repetir todos os dias, durante semanas e meses,
          visto que, por muito tempo, sempre que acorda, o bebê espanta-se com o fato de reencontrar o mundo do avesso: 
           as sensações fortes "dentro" do ventre, do estômago,
           e "fora", coisa alguma!
          É necessário restabelecer o equilíbrio.
          E alimentar o "de fora", com o mesmo cuidado que o "de dentro".
          Para ajudar os bebês a atravessar o deserto dos primeiros meses de vida,
          a fim de que eles não sintam mais a angústia de estar isolados,
          perdidos,
          é preciso falar com suas costas,
          é preciso falar com sua pele
          que têm tanta sede e fome
          quanto o seu ventre.

          Sim!
          Os bebês têm necessidade de leite.
          Mas muito mais de ser amado
          e receber carinho.

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