Se os bebês berram sempre que acordam não é porque a fome os atormente.
Eles não morrem de inanição.
Eles são aterrorizados pela novidade da sensação. Por essa "coisa qualquer interior" que assume imensas proporções, justamente porque o mundo exterior está morto.
É preciso alimentar os bebês.
Sem dúvida alguma.
Alimentar a sua pele tanto quanto o ventre.
E, além disso, nesse oceano de novidades, de desconhecido, é preciso devolver-lhe as sensações do passado. Só elas nesse momento podem oferecer-lhe um sentimento de paz, de segurança.
A pele e as costas não esqueceram.
Já contei como, passada a surpresa, o pequeno começou a amar, a esperar por essa força que dele se apoderava, o esmagava e, por isso, o deixava assombrado e saciado.
E como, semana após semana, o abraço ficava mais apaixonado, mais poderoso, para finalmente, culminar no delírio, a embriaguez do parto, do trabalho.
Seria grave erro imaginar que o nascimento é necessariamente doloroso para o bebê.
A fatalidade da dor não existe.
Não mais que a fatalidade do parto.
Assim como dar à luz pode ser para a mulher liberada do medo uma experiência inebriante, com a qual nada se pode comparar, para o bebê, o nascimento pode ser a mais extraordinária, a mais forte, a mais intensa das aventuras.
Seu grito é um protesto apaixonado por aquilo que um prazer tão intenso vem interromper de modo brusco.
Eu disse como, no nascimento, era preciso segurar a criança, massageá-la.
Ao prolongar, dessa maneira, a poderosa sensação, lenta, ritmada, ao fazê-la alimentar-se de modo pausado, evitamos a ruptura brutal, causa de sofrimento e abstinência.
Parece à criança, então, que a contração a acompanha até a margem para abandoná-la uma única vez, quando ela estiver bem assentada nessa liberdade nova e embriagante.
O que fizemos no nascimento temos de repetir todos os dias, durante semanas e meses,
visto que, por muito tempo, sempre que acorda, o bebê espanta-se com o fato de reencontrar o mundo do avesso:
as sensações fortes "dentro" do ventre, do estômago,
e "fora", coisa alguma!
É necessário restabelecer o equilíbrio.
E alimentar o "de fora", com o mesmo cuidado que o "de dentro".
Para ajudar os bebês a atravessar o deserto dos primeiros meses de vida,
a fim de que eles não sintam mais a angústia de estar isolados,
perdidos,
é preciso falar com suas costas,
é preciso falar com sua pele
que têm tanta sede e fome
quanto o seu ventre.
Sim!
Os bebês têm necessidade de leite.
Mas muito mais de ser amado
e receber carinho.
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